‘The Bear’ volta com quarta temporada que busca equilíbrio entre tensão e leveza na cozinha
A quarta temporada de The Bear (ou O Urso, no Brasil) estreou no Disney+ em 25 de junho, trazendo de volta a intensidade das cozinhas profissionais que conquistou público e crítica nas temporadas anteriores. Com 10 episódios disponibilizados simultaneamente no Brasil e nos Estados Unidos – uma novidade para a série –, a nova temporada acompanha Carmen “Carmy” Berzatto (Jeremy Allen White) e sua equipe enfrentando os desafios de elevar o restaurante The Bear a um novo patamar de excelência gastronômica.

A nova temporada concentra-se na pressão por consistência que assombra qualquer estabelecimento de alta gastronomia. Após transformar uma lanchonete tradicional em um espaço refinado, a equipe precisa lidar com desafios financeiros, conflitos pessoais e a constante busca pela perfeição. Sydney Adamu (Ayo Edebiri) se vê diante de uma decisão crucial sobre seu futuro profissional, enquanto Carmy continua lidando com seus traumas pessoais e Richie Jerimovich (Ebon Moss-Bachrach) lida com a vida após o divórcio.
The Bear e a vida na cozinha
Para os atores da série, a representação fidedigna do universo gastronômico sempre foi uma prioridade -- e continua agora. “Pelo que vi, principalmente em vídeos no YouTube com chefs comentando a série, muita gente do meio gosta da forma como mostramos a cozinha”, explica Lionel Boyce, intérprete do confeiteiro Marcus, em entrevista ao Paladar. “Muitos dizem que contamos essa história do jeito certo. Não sei se mudamos o jogo, mas talvez a gente tenha aberto espaço para mais paciência e, com sorte, menos toxicidade”.
A preparação dos atores para interpretar profissionais da gastronomia envolve um processo rigoroso de imersão no ambiente das cozinhas profissionais. Boyce revela que passou dias observando o funcionamento de restaurantes estrelados pelo Guia Michelin. “Fiquei só observando. Me deixaram limpar umas ervas de vez em quando”, diz, aos risos. “No fim das contas, isso faz parte do trabalho do ator”, conta ele, que também recebeu treinamento da produtora culinária Courtney Storer para aprender montagem, postura e até tom de voz.
Liza Colón-Zayas, a Tina, veterana da cozinha, acredita que a série tem um impacto positivo no mundo da cozinha. “Acho que a série está atraindo pessoas para a profissão. Esse tipo de produção dá visibilidade, dá um espaço para a área”, afirma ao Paladar. A atriz destaca ainda o aspecto prático do aprendizado. “O legal é que é uma habilidade útil. Posso aplicar o que aprendi na vida real, então fico com vontade de aprender mais”.
Evolução dos personagens e dilemas gastronômicos
A quarta temporada se dedica a aprofundar os arcos emocionais dos personagens, explorando como cada um lida com as pressões do ambiente gastronômico de alto nível. Tina, por exemplo, canaliza sua força natural para cuidar dos colegas mais jovens, como Ebra e Sydney. “Eu foco na essência da Tina. Ela é uma mulher forte, uma sobrevivente. Essa força aparece de formas diferentes — agora ela usa isso para cuidar do Ibra, da Sydney... Ela canaliza essa energia para manter a comunidade unida”, explica Colón-Zayas.
Para Boyce, acompanhar a evolução de Marcus ao longo das temporadas tem sido gratificante: “Pra mim, é divertido — parece que estamos realmente contando uma história. Não só no sentido prático da trama, mas no arco emocional dos personagens. Cada temporada é como fazer um filme — podemos explorar mais fundo a cada vez”, afirma.
A série continua abordando temas centrais do universo gastronômico contemporâneo, como a busca por estrelas Michelin, a corrida contra o tempo, a questões de sustentabilidade e a complexa relação com críticos e influenciadores digitais. Personagens como Natalie “Sugar” Berzatto (Abby Elliott) e a mãe de Carmy, Donna (Jamie Lee Curtis), também ganham maior destaque, trazendo camadas familiares que influenciam diretamente a dinâmica da cozinha.
Entre comédia e drama: a receita do sucesso
A classificação de The Bear sempre gerou debates entre críticos e espectadores, ficando entre o drama e a comédia. Para os próprios atores, essa ambiguidade é parte do charme da série. “No set, eu estou sempre rindo! Acho que pelo menos um pouco de comédia ela é. Pra mim é hilária... mas talvez eu tenha um humor meio sombrio”, diverte-se Boyce.
Colón-Zayas concorda e faz uma comparação interessante. “Tipo, Succession é tecnicamente um drama, mas era mais engraçado que muita comédia por aí”, diz ela, com outra polêmica do mundo da tevê. “Eu parei de pensar nesses rótulos. Não é gravado com platéia, sabe? Eu só penso se gosto ou não da série. E The Bear parece real”.
Bons resultados
Com os dois episódios já disponíveis no Disney+, The Bear cresceu -- e bastante -- após a queda de qualidade observada na terceira leva de capítulos. O destaque vai para o episódio Vieiras. Como o próprio insumo que dá nome ao capítulo, a história é delicada e emociona.
No final, a quarta temporada é uma espécie de retorno à forma da série, com momentos de alta tensão emocional e atuações brilhantes do elenco principal. Tudo bem que falta coesão em determinados episódios, com diálogos extensos que nem sempre fazem a narrativa avançar, faltando um pouco daquele impacto das duas primeiras temporadas. Mas não é um fator que atrapalha o andamento da história ou coisa do tipo. Há emoção genuína.
Vale lembrar, ainda, que a quarta temporada foi filmada em Chicago logo após a conclusão da terceira, uma estratégia necessária para acomodar as agendas concorridas do elenco principal, que está envolvido em outros projetos de destaque. A showrunner Joanna Calo revelou que buscou um tom ligeiramente mais leve em comparação com as temporadas anteriores, embora mantendo a intensidade característica que define a série.
E assim, com o sucesso sem fim, The Bear consolida-se como uma das produções mais importantes para a representação da gastronomia na TV, oferecendo um retrato honesto e visceral dos desafios enfrentados por profissionais da área. A quarta temporada, mesmo com imperfeições, reafirma o compromisso com autenticidade e complexidade emocional que tornaram a cozinha do The Bear um dos cenários mais cativantes da TV atual.
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